Aécio, Caiado e Agripino tripudiam da democracia

Aécio, Caiado e Agripino tripudiam da democracia

Senadores, que no passado usufruíram da ditadura, nunca visitaram presos políticos ou presos comuns no Brasil e ferem direito internacional ao interferir em assuntos de outro país

Nos anos de chumbo da ditadura militar, os senadores que protagonizaram o fiasco diplomático na Venezuela estavam à sua maioria ao lado do regime militar. Não se tem notícias de que, na sua juventude, estes senadores, todos acima da casa dos 50 anos, tenham feito visitas aos presos políticos brasileiros. Na trupe formada por Aécio Neves (PSDB-MG), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Agripino Maia (DEM-RN), Cassio Cunha Lima (PSDB-PB), Ricardo Ferraço (PMDB-ES), José Medeiros (PPS-MT) e Sérgio Petecão (PSD-AC) há apenas uma exceção: o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), que participou da esquerda armada, onde foi motorista do ex-deputado federal Carlos Marighela (PCB-BA), o líder da ALN (Aliança Libertadora Nacional).

A visita atabalhoada à Venezuela foi um completo desatino de uma oposição que só tem plantado ódio, conforme denunciou ontem, nas páginas do Diário da Manhã, a senadora Lúcia Vânia, que deixa o PSDB para iniciar nova caminhada política no PSB:

– “Não acredito em uma oposição movida a ódio; preocupa-me a interpretação que parte da oposição faz da indignação das ruas. Na minha opinião este confronto que se estabeleceu no Congresso Nacional entre oposição e situação, para dar respostas a uma sociedade órfã de lideranças, é simplesmente irracional”.

A lucidez de Lúcia Vânia contrasta com a irascibilidade do presidente do PSDB, Aécio Neves, partido o qual Lúcia deixa, depois de uma militância de mais de duas décadas, onde foi eleita deputada federal e senadora por dois mandatos.

Aécio insiste na agenda do ódio, que levou outros expoentes da oposição golpista ao ridículo. Kim Kataguiri, autodeclarado líder do Movimento Brasil Livre (MBL), passou vários vexames com a sua marcha rumo a Brasília para pedir o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). O primeiro vexame é que o movimento não reuniu ninguém. Micou. Apenas 12 pessoas acompanharam-no de São Paulo até o Congresso Nacional. Próximo a Brasília, em Alexânia, Kataguari sofreu um acidente e teve que ser socorrido por uma ambulância do Samu. Logo ele que prega a privatização total, inclusive dos serviços de saúde e de educação.

Depois foi a vez de Marcelo Reis, alter-ego do movimento Revoltados On Line, protagonizar outro ato de insensatez, ao invadir o hotel Pestana, em Salvador (BA), onde estava sendo realizado o V Encontro do PT. Vestindo uma camiseta escrita “Impeachment”, Reis esperava ser agredido pelos petistas. Se deu mal. Não sofreu nenhum catiripapo e saiu vaiado com o rabo entre as pernas. Não se dando por vencido, ampliou a noção de ridículo, postando nas redes sociais uma foto onde aparece enfaixado de manhã, porém, à noite, aparece em outra foto completamente sadio e sem ferimentos, ao lado de duas beldades na noite de Salvador.

Aécio Neves foi funcionário no gabinete do pai, Aécio Ferreira da Cunha, eleito deputado federal por seis mandatos pela Arena e pelo PDS, partidos de apoio à ditadura. Aécio admitiu que foi contratado para trabalhar em Brasília, embora residisse no Rio de Janeiro em 1980. Não consta na sua biografia que tenha visitado qualquer preso político no Dops do Rio neste período. Ronaldo Caiado, cujo pai e familiares apoiaram o golpe contra o presidente João Goulart (PTB-RS) e contra o governador Mauro Borges (PSD-GO), também nunca foi defensor dos direitos humanos. Ao contrário, como estudante, em Paris, engajou-se nos movimentos de extrema-direita liderados por Jean Marie Le Pen. José Agripino Maia, prefeito imposto pela ditadura em Natal (RS) entre 1979 e 1982, foi desmascarado pela presidente Dilma Rousseff, em 2010, quando questionou a então ministra do Gabinete Civil se era verdade que ela tinha mentido durante inquérito feito pela ditadura. Dilma respondeu que tinha orgulho de ter mentido sob tortura para salvar companheiros da luta pela democracia, e deixou claro que enquanto ela estava presa, ele, Agripino, estava do outro lado, apoiando os generais e as torturas contra presos políticos.

Por tudo isto, e muito mais, a viagem dos senadores oposicionistas à Venezuela merece desprezo dos brasileiros de hoje e de ontem. O que diria o Barão do Rio Branco, fundador da doutrina que norteia o Itamaraty, na consagrada política brasileira de respeito a autodeterminação dos povos?

É chegada a hora, como bem expôs Lucia Vânia, da oposição parar com factoides e apresentar propostas concretas ao Brasil. Fazer papel de bobo na Venezuela ou sair em passeatas vestido de Batman não vai mudar nada na realidade do povo brasileiro.

Aécio, cujo pai sempre militou contra Tancredo Neves, deveria inclusive ter vergonha de usar o nome do tio-avô famoso para fazer política, pois Tancredo Neves tinha inúmeras qualidades, entre as quais, coragem cívica. Tancredo ficou ao lado de Getúlio Vargas até o fim, lutando contra a tentativa de golpe da República do Galeão e do Corvo, Carlos Lacerda. Tancredo também não abandonou João Goulart. Lutou até o fim contra os golpistas, xingando Ranieri Mazzili: “Canalha, canalha, canalha!”, quando este declarou vaga a presidência da República, consumando a deposição de Goulart.

Falta esta ombridade e coragem cívida a Aécio, que inclusive esquivou-se de participar das marchas fascitoides pela deposição de Dilma ou de receber os líderes pagos do golpe como os internautas playboys Kim Kataguari e Marcelo Reis.

Em nome da dignidade, Aécio deveria parar de fazer o Brasil e a política brasileira passarem vexames como a fracassada ida a Caracas.

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Ronaldo Caiado não foi defensor dos direitos humanos(Foto: divulgação)

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Senador Agripino Maia apoiou generais(Foto: divulgação)

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PATAQUADA DE AÉCIO E CAIADO NA VENEZUELA QUEIMOU CERCA DE R$ 40 MIL SÓ EM GASOLINA

ALÉM DO DESPERDÍCIO DE COMBUSTÍVEL, PAGO PELO CONTRIBUINTE, VIAGEM DOS SENADORES EXPÔS POLÍTICA EXTERNA AO RIDÍCULO, NÃO PRODUZIU NENHUM FATO POSITIVO E MOSTROU INCAPACIDADE POLÍTICA DA OPOSIÇÃO

MARCUS VINÍCIUS

Já está na hora de a oposição parar de achar que o povo brasileiro é burro. Uma sucessão de episódios ridículos está emporcalhando a vida política do Brasil e manchando uma atividade que deveria ser levada a sério num país com tratos problemas por solucionar. A viagem à Venezuela, por exemplo, é mais um exemplo de desperdício de dinheiro público e do capital político do País e das pessoas envolvidas.

A reportagem do Diário da Manhã ouviu um experiente piloto para saber quanto custou ao contribuinte brasileiro a aventura midiática dos senadores Aécio Neves (PSDB-MG), Ronaldo Caiado (DEM-GO), Aloysio Nunes (PSDB-SP), Agripino Maia (DEM-RN) e seus pares.

O cálculo é simples: uma viagem de Legassy da FAB (Força Aérea Brasileira), avião produzido pela brasileira Embraer, de Brasília a Boa Vista(RR) leva em torno de quatro horas. Até Caracas, na Venezuela, seriam um pouco mais de uma hora de voo. Cada uma das duas turbinas do Legacy consome cerca de 400 litros de combustível por hora. O preço da gasolina de avião está em torno de R$ 5,00, logo, numa viagem de 5 horas, cada turbina consome 2 mil litros de combustível cada, somando 4 mil litros na ida, e mais 4 mil litros na volta, totalizando 8 mil litros, que custam ao erário R$ 40 mil.

Se forem consideradas outras despesas, a farra com dinheiro do povo brasileiro pode ter ficado mais cara, com aluguel de van, alimentação, gastos com celular (pagos pelo contribuinte também), tudo isto para que Aécio e companhia sequer conversassem com Henrique Capriles, principal líder da oposição da Venezuela, o governador do Estado de Miranda.

Desde que o Barão do Rio Branco estabeleceu, no final do século XIX e início do século XX, os pilares da diplomacia brasileira, entre os quais o respeito à autonomia dos povos, jamais o Brasil passou pelo ridículo de uma pataquada midiática como a comandada pelo senador Aécio Neves at caterva. Criar factoides com o dinheiro do povo é coisa que Áecio sempre fez. Aliás, factoides e avião são coisas que o senador mineiro domina, embora ainda deva ao País explicações sobre o aeroporto que construiu com o dinheiro do povo de Minas Gerais, na fazenda de seu tio no município mineiro de Cláudio.

(dm)

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