Dá para viajar em uma moto básica?
Feriadão chegando, e uma pergunta é recorrente entre motociclistas: dá para viajar com uma moto básica? E a resposta é: definitivamente, sim.
Diferente de países onde, em algumas rodovias, a legislação diz que veículos de duas rodas a motor (scooters e motos) devem ter uma motorização mínima, em geral 250 cc, o Código de Trânsito Brasileiro não impõe limite, seja de capacidade cúbica ou potência do motor.
Portanto, é possível sair de um extremo do Brasil e ir até o outro de Honda Pop 100 ou com o pequeno scooter como o Suzuki Burgman 125i. Basta querer.
Certo ou errado não são termos aplicáveis à decisão de viajar com um meio de locomoção deste tipo, cuja potência é limitada. A questão é que muitos não têm alternativa. Aliás, a maioria da frota de motos brasileira é formada por pequenas motos e motonetas de 100 a 150 cc. Assim, seria antidemocrático limitar o direito de ir e vir dessa legião de usuários do guidão.
Em determinadas partes do país uma soma de fatores, como ausência de transporte público e distâncias consideráveis entre cidades e vilarejos, faz das motocicletas um verdadeiro fator integração, ferramenta de cidadania e, para dizer o óbvio, de trabalho.
Para que seja possível encarar o mundo no lombo de uma pequena utilitária tipo CG, é importante levar em consideração alguns aspectos muito simples e claros e outros nem tanto.
Veja a seguir 7 dicas que vão facilitar a sua empreitada:
1) ESCOLHA A VIA
Mais de 80% das estradas brasileiras não são pavimentadas. Se a ideia for realizar grandes trajetos, como sair da região Nordeste para conhecer as cataratas do Iguaçu, ou trocar a paisagem dos pampas gaúchos pela exuberante selva amazônica, escolher o caminho mais curto pode ser a ideia mais óbvia, mas nem sempre a melhor. Selecionar as vias asfaltadas resultará em um caminho mais curto e rápido, mas, em muitos trechos, você encontrará grande quantidade de veículos.
Especialmente na região Sudeste do Brasil, onde ficam as melhores estradas do país em termos de traçado e conservação, uma moto de 125 cc sofrerá demais para acompanhar o ritmo dos outros veículos. Em muitas delas, a velocidade máxima é de 110 km/h a 120 km/h. Nessa condição, o risco de se ver em situações difíceis e muito perigosas é corriqueiro, já que uma moto pequena de 100 ou 125cc mal chega aos 100 km/h.
Então, o que fazer? A dica é Optar por estradas alternativas, o que, quase sempre, significa trocar asfalto e sinalização razoável por buracos e armadilhas de todo gênero.
Porém, com uma moto pequena, isso talvez seja preferível. Menos frequentadas, com limites de velocidade mais baixos, as estradinhas aumentarão consideravelmente os trechos a serem percorridos em alguns casos – e o tempo da viagem também. Porém, pressa de chegar não pode fazer parte das pretensões de quem viaja com moto pequena.
2) LEVE COMPANHIA
Outra iniciativa importante, que vale não só para quem viajará com as pequenas como também para quem vai com motos maiores é ter companhia. Dois em duas motos é uma receita ideal para evitar contratempos.
Pneu furou? Levar a roda ao borracheiro enquanto um toma conta da moto avariada é absolutamente melhor do que fazer um conserto sozinho na beira da estrada ou, pior, ter que abandonar a moto à própria sorte e depender de caronas de outros motoristas para resolver inconvenientes.
3) PLANEJE BEM
Quem se aventura no mundo deve ser precavido por natureza e, se não for, vai aprender da pior maneira quanto a vida poderia ser mais fácil se algum planejamento tivesse sido feito.
Mesmo que você não seja nada chegado ao “faça você mesmo” em termos de manutenção de motocicletas, enfrentar uma viagem grande exigirá o mínimo: saber tirar uma roda para consertar o pneu, ajustar a corrente de transmissão, saber onde estão fusíveis e como trocar lâmpadas.
4) MENOS É MAIS
Leve o mínimo de bagagem possível. Carregar a bagagem no corpo, em uma mochila ou sacola, não é boa ideia, pois andar de moto exige total mobilidade. O melhor é distribuir a bagagem sobre a moto de maneira uniforme, equilibrada, sem concentrar peso excessivo nas extremidades.
Importante: prenda tudo de maneira firme. Moto e bagagem devem formar um conjunto só. Ao balançar sua motocicleta, a bagagem não pode se mover mais do que ela…
5) BUSQUE CONFORTO
Pode parecer paradoxal, mas estar confortável sobre uma 125 ou 150 é possível. Uma dica campeã é a almofadinha de gel, que pode ser comprada em casas de produtos hospitalares. Fixá-la sobre o banco com tiras de câmara de ar garante um conforto que permite percorrer muitos quilômetros, dias e mais dias seguidos, sem sofrimento.
Outra boa iniciativa é incorporar ao equipamento de segurança completo – capacete, calça e jaqueta com proteções, luvas e calçado de cano alto – uma cinta elástica abdominal. Não pode ser muito apertada, apenas justa, mas fará milagres, ajudando na postura.
6) PILOTE DEFENSIVAMENTE
Só pedestres e bicicletas serão mais frágeis que uma pequena moto em uma estrada. Ter consciência disso é sabedoria pura: jamais dispute espaço com quem é maior que você e parta sempre do princípio de que você não vai ser visto.
Em estradas de grande movimento, jamais desgrude seu olhar do retrovisor. Evite rodar de noite ou em situações com visibilidade prejudicada como na chuva e com neblina. Esteja preparado também para o grande movimento de ar que os veículos maiores e em velocidade causam ao passarem por você.
7) CONVERSE COM OS EXPERIENTES
Uma boa iniciativa antes de preparar uma aventura ao guidão é conversar com quem tenha alguma experiência que possa ser útil. O primeiro deles é o mecânico que revisa sua motocicleta, que não só pode te ensinar o que fazer em situações de emergência como determinar procedimentos periódicos para evitar problemas maiores.
No entanto, serão os viajantes, as turmas com experiência de guidão em trajetos similares e com motos pequenas, que podem mesmo ensinar “o caminho das pedras”.
José Albano, lendário fotógrafo cearense é um deles. Motociclista tardio – comprou sua primeira moto quando tinha mais de 40 anos – rodou e roda o Brasil de Norte a Sul ao guidão de uma pacata Honda ML 125 dos anos 1980. As andanças de Albano renderam fotos espetaculares e um livro, “O Manual do Viajante Solitário” (Editora Terra da Luz, 2010, R$ 45,00).
Nele, os segredos dos milhares de quilômetros estão divididos por capítulos que, em vez dos relatos de lugares ou emoções vividas, dão conta de aspectos práticos: o que levar, como minimizar desconfortos, quantos km rodar por dia, como lidar com problemas inerentes às motos pequenas e etc… Muitos livros foram escritos sobre viagens de motos, mas raros são os que, como o de José Albano, são específicos para usuários das pequenas que viajam pelo Brasil.
Fotos: José Albano/Divulgação; Zé Fagundes/ Arquivo Pessoal; Maurício Duch
Fonte: g1.globo