Mais de 63% dos atendimentos no Hugo são de motociclistas
Número de amputações também é alto
Goiânia – Em Goiás, o número de motociclistas já é superior a 50% do número de motoristas: são 1.289.088 condutores sobre duas rodas e 2.430.844 motoristas de carros. Em Goiânia, a proporção é menor: 293.350 e 829.929, respectivamente. A Capital tem a terceira maior frota de motos do País em números absolutos, só perdendo para São Paulo (SP) e Rio de Janeiro (RJ).
Com o número de veículos cada vez maior e a paciência dos usuários da via na contramão desse crescimento, o espaço nas ruas tem se tornado cada vez mais disputado e perigoso.
De janeiro até junho deste ano, o Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo), realizou 4.888 atendimentos a vítimas de acidente de trânsito, sendo 3.106 deles apenas de motociclistas. O número equivale a 63% do total. Das 131 mortes registradas no período, 55 foram de condutores de motos, o que corresponde a 42% do total.
“Esses números refletem a vulnerabilidade desse tipo de veículo, que não oferece proteção. Os pacientes chegam ao hospital quase sempre com mais de uma fratura, além de traumatismos cranianos e torácicos. A maioria precisa passar por mais de uma cirurgia”, disse o diretor técnico do Hugo, Ricardo Furtado Mendonça.
O número de amputações dos condutores de motos também é alto. Dos 49 procedimentos realizados nos seis primeiros meses deste ano, 26 foram de motociclistas. Em 2014, foram 74 amputações de motociclistas.
Para o diretor, a retirada de um membro causa prejuízos incalculáveis. “Essas vítimas, a maioria homens, que geralmente estão na faixa etária entre 19 e 50 anos, ficam fora do mercado de trabalho por algum tempo até se readequarem. Muitos, inclusive, acabam se aposentando. É prejuízo para o Estado que arca com a internação e para muitas famílias, que perdem o provedor da casa”, informou.
Causas
Os dados mais recentes, de 2013, dão conta de que 21.227 acidentes foram registrados naquele ano, em Goiânia, uma média de 41 por mês. Mais de 70% deles foram de motociclistas (15.235). Desse total, 118 condutores que conduziram o veículo sobre duas rodas morreram.
Segundo o diretor técnico do Detran, João Balestra, as causas desses acidentes estão ligadas à imprudência dos condutores. “Diariamente os órgãos fiscalizadores se deparam com motoristas sem habilitação, passageiros sem capacete, ou muitas vezes o equipamento está solto na cabeça. Além disso, há o excesso de velocidade, ultrapassagens perigosas, entre outras infrações”, relata.
Segundo João Balestra, aliadas às ações punitivas, trabalhos educativos estão sendo realizados frequentemente.
Nesta manhã de segunda-feira (27/7), Dia do Motociclista, as equipes do Detran estiveram em três pontos da capital, para alertar sobre as boas práticas no trânsito que podem fazer diferença. “Nosso trânsito continua muito violento e o que as pessoas precisam pensar é que são elas as responsáveis por isso”, disse.
Medidas
O perito Antenor Pinheiro, especialista em trânsito, afirma que o problema de acidentes envolvendo motociclistas é consequência de uma série de fatores, entre eles antropológicos e de fiscalização. “Somos uma sociedade violenta e que acredita na impunidade. Hoje, se mata no trânsito e a pena é pagar cestas básicas. Há muitas leis, que não são cumpridas. É necessário uma fiscalização maior, mais rigor. Estamos numa guerra urbana e as autoridades não se dão conta”, reclamou.
Outro ponto levantado por ele é o processo para obtenção da CNH, categoria A. “A prova não acrescenta em nada para o candidato. Não forma condutores cidadãos. Todo esse processo tem mais a ver com cidadania do que com habilidade, mas não é o que se aprende lá”, disse.
O Detran-GO lidera o movimento nacional para modificar a resolução de execução dos testes para a categoria A. A demanda está nas mãos do Conselho Nacional de Trânsito (Contran) há 3 anos e, segundo o órgão, isso deve ser resolvido este ano. “Se a resolução for modificada, será o primeiro passo para um caminho longo”, finalizou o especialista.
(aredacao)