Moto por R$ 20 mil: melhor uma novidade 0 km ou uma usada maior?
Yamaha YZF-R3 e KTM 390 Duke (fotos acima) são duas novidades que chegam ao mercado nacional neste segundo semestre. A R3 é uma esportiva carenada, quase uma miniatura da poderosa R1 de 1000 cc; já a KTM é uma naked apimentada, moderna e agressiva. Ambas chegam para disputar clientes com duas Kawasaki de perfil equivalente já conhecidas por aqui, a esportiva Ninja 300 e a recém-lançada naked Z300.
A efervescência neste segmento não é apenas sinal evidente da briga entre as marcas por um tipo específico de cliente, em boa parte formado por gente que deixa as motocicletas básicas e quer dar um upgrade em sua vida de motociclista. Há também um fator “tapar buraco” pois durante muitos anos eram poucas as opções na faixa ao redor dos R$ 20 mil.
Como de hábito, quanto mais as opções, maiores são as dúvidas. Uma questão recorrente nos fórums, blogs, sites e rodinhas de motociclistas é a seguinte: o que vale mais a pena, comprar uma dessas novidades moderninhas, “da hora”, ou uma moto usada mais potente? Para jogar uma luz sobre este tema, que sempre renderá discussões sem fim, vamos elencar aspectos para o caso de alguém estar precisando se agarrar em algum argumento para concretizar sua decisão. Vamos lá…
FASCÍNIO PELA MOTO ZERO
Olhar o marcador de quilometragem, o hodômetro, e ver um monte de zeros: este é um inegável privilégio! Desbravar os primeiros quilômetros de um produto 100% virgem, novinho em folha, sentir o funcionamento de uma máquina novíssima e perceber tudo impecávelmente ajustado (na maioria dos casos…) é um prazer que tem preço conhecido.
Diz a lenda (confirmada por muitos lojistas) que uma moto que sai da revenda, perdendo o plástico transparente que recobre o banco e recebendo placa, já se desvaloriza em cerca de 10 a 20% do valor total. Deste modo, pelo dinheiro que você compraria a nova Yamaha, uma das Kawasaki citadas ou a novidade da KTM, você poderia comprar uma Honda CB 500F ou CBR 500F com menos de um ano de uso e bem pouca quilometragem. Tentador, não?
RUGIDO QUE EMOCIONA
Cavalaria mediana e peso baixo são características das novidades citadas no começo do texto. Tanto as naked Z 300 e Duke 390 quanto as esportivas R3 e Ninja 300 são motos que serpenteiam com uma agilidade soberba, de fazer seus pilotos rirem de orelha a orelha quando surgem curvas pela frente. Porém, na hora de acelerar, o empurrão não é tão forte nem o urro tão poderoso como o das tetracilindricas das quais os melhores exemplos são as Honda CB 600F Hornet (acima) e Yamaha XJ6 N ou F (foto abaixo).
Não é impossível achar uma dessas, usadinha (ou usadona), por um preço na casa dos R$ 20 mil. Tais motonas esbanjam potência mas também quilos, e assim sua pilotagem exige experiência. Outro aspecto a considerar é a manutenção, que tende a ser mais cara tanto pelo fracionamento do motor (quatro cilindros, quatro velas…), maior complexidade mecânica e pela maior quilometragem inerente. Ah, e há o fator consumo também, pois não há milagre: um motor 600 beberá sempre mais do que um 500, um 300… Outro aspecto vem dos pneus, sempre maiores e mais caros. Ou seja, moto maior, despesas maiores…
A GARANTIA “SOY YO”?
Olho vivo para a garantia! Pode parecer uma bobagem mas muitos dos que optam pela compra de um veículo zero quilômetros são garantia-dependentes, gente que jamais seria capaz de viver sem o respaldo de um documento que lhes dê segurança, que proteja suas finanças se acaso um problema dos grandes acontecer em sua moto. Infelizmente, a garantia maior do que um ano no Brasil ainda é restrita a alguns modelos populares, ou seja, não abrangem as 300, 500 e por aí vai, o que não deixa de ser uma vergonha.
Marcas tidas como “premium” como BMW, Harley-Davidson e Triumph oferecem garantia de dois anos, mas é bem difícil que uma moto destas marcas citadas custe ao redor de 20 mil reais com menos de dois anos de uso. Ou seja, se quiser garantia de pelo menos um ano, sua melhor opção é a moto zero. Para as motos usadas, que superaram a garantia de fábrica, algumas revendas e lojas oferecem três meses para motor (e as vezes câmbio).
Conselho: tudo deve estar por escrito, garantia apalavrada é prenúncio de dor de cabeça. Sobre quilometragem, melhor uma moto muito rodada de um dono atento à manutenção do que uma com poucos quilômetros de um dono distraído. Como saber? Esse é o problema…
PARA QUÊ MESMO?
Mire-se num espelho, olhos nos olhos, e se pergunte: para quê vai servir minha futura moto? Responda com sinceridade e siga a razão, não a emoção. Compre a moto que efetivamente servirá para seu propósito e não aquela que mais vai impressionar a vizinhança, ou a que o “sabidão” da sua turma julga ser o máximo. É sempre importante ouvir opiniões, mas, mais importante, é você formar a sua própria, fundamentada principalmente em aspectos práticos.
Vai viajar bastante? Então opte por um modelo de motor maior, com potência de sobra, pois na estrada é sempre um fator de segurança ter reserva de potência. Vai andar o tempo todo na cidade, encarando congestionamentos? Nesse caso menos (peso & potência) é mais, quanto menor e mais ágil, melhor será sua motocicleta neste cenário.
E se você é aquele cara que está pensando na moto como um objeto de puro lazer, para curtir a pilotagem, seja em pista ou em estradinhas cheias de curvas, saiba que a tecnologia moderna deu às motos de pequenos motores, grande capacidade de emocionar. Tenha certeza que as novidades Yamaha R3, KTM 390 Duke ou as mais conhecidas Kawasaki Z300, Ninja 300 (foto abaixo) ou as novas 500 da Honda oferecem mais do que poderia se esperar em praticamente tudo. Performance, praticidade, economia de exercício e, principalmente, no sempre importante quesito “prazer ao guidão”.
ASSIM SENDO…
Com R$ 20 mil na mão, pouco mais, pouco menos, sua garagem pode receber motocicletas que sem dúvida já podem ser consideradas sonhos de consumo, genuínos objetos do desejo. Três décadas atrás, na época em que as importações estavam proibidas, o mercado de motos se resumia a uma dezena de modelos, se tanto, e a escolha retrita. Hoje o Brasil está equiparado a qualquer país do chamado 1º mundo em termos de oferta de modelos. Apesar dos preços serem em geral acima do que gostaríamos – e poderíamos – pagar, é possível achar aquilo que se encaixa perfeitamente em nossa necessidade. Basta procurar e principalmente ter bom senso na hora da escolha.
(G1)
(Fotos: Divulgação e Rafael Munhoz/G1)