Oralidade: a chave para abrir portas ao pequeno leitor
Por Cléo Busatto
O dia 25 de agosto, data de nascimento da dra. Zilda Arns, foi escolhido como o Dia Nacional da Educação Infantil em sua homenagem.
A educação na primeira infância, que corresponde à faixa etária de 0 a 6 anos, é fundamental para o desenvolvimento pleno da criança. Nesta fase ela irá reconhecer suas potencialidades e ampliar seu universo de conhecimentos e habilidades, através do brincar, conviver, participar, explorar, expressar e se conhecer.
É um período de grande importância para a criança, quando ela une a linguagem ao pensamento para organizar sua realidade e se prepara para a alfabetização formal e o domínio das múltiplas competências que irá desenvolver em sua vida. A alfabetização é um rito de passagem e eu, enquanto artista da palavra comprometida com o texto escrito e falado, acredito que a oralidade exerce um papel relevante neste sentido.
As narrativas familiares e ficcionais se apresentam como veículo para apreender a língua-mãe, e tudo me leva a crer que a oralidade funciona como uma ponte de acesso às diferentes dimensões do conhecimento. Já a literatura é um instrumento facilitador dessa passagem, uma chave para abrir a porta ao sujeito-leitor.
Considerando a oralidade como conquista da humanidade, orgânica e natural (desde que não haja comprometimento mental e/ou físico), nada mais lógico do que estimular essa habilidade junto aos pequenos e priorizar os recursos da contação de histórias, da leitura em voz alta, do canto de quadrinhas, da recitação de poemas e parlendas. Através da narrativa bem preparada pelo mediador, pode-se esperar que a prática da alfabetização seja introjetada na criança, e dali para a sua sistematização é um pulo.
O mediador deverá construir um espaço externo, que favoreça a inclusão do texto escrito, e um espaço interno previamente sensibilizado para essa nova aquisição. Os anos iniciais devem ser destinados à literacia, e o desenvolvimento da linguagem oral é etapa importante dessa aprendizagem. Para estimular a oralidade, o mediador faz perguntas para que a criança responda. Indaga sobre os fatos da história narrada, formula questões relacionadas ao tema, aos cenários, personagens e principais acontecimentos da história, e a estimula a também questionar e perguntar.
No Dia Nacional da Educação Infantil, lembramos o livro, companheiro de tantos momentos, insistimos na prática de contar histórias assentada na fala que convence, com o uso correto do ritmo, das intenções e das imagens que o texto nos oferece. Recordamos o prazer de contar e ouvir o texto literário, sabedores de que o narrador oferece a intenção para o ouvinte criar significados e dar sentido ao mundo que o cerca.
* Escritora, mediadora de leitura e mestre em Teoria Literária (UFSC), com 35 livros publicados, entre os quais o lançamento Um lago, um menino e a lua.