Séries especiais de motos: bom negócio para quem vende e quem compra
g1
De tempos em tempos alguém do departamento de marketing visita o pessoal do desenvolvimento para, juntos, desenvolverem ideias e trazer alegria para a turma do departamento comercial. Pode ser que não seja exatamente assim que aconteça, mas é certo que os fabricantes de motocicletas têm nas séries especiais uma carta precisa para dar uma animada nas vendas.
Motos mais elaboradas, que fogem do lugar comum, podem ser diferentes apenas do ponto de vista estético ou também conciliar pitadas de tecnologia à imagem mais caprichada. Seja como for, é certo que elas acabam agradando tanto quem as vende quanto aqueles interessados em comprá-las.
É longa a história de sucesso das séries de motocicletas especiais inclusive em um país que, como o Brasil, acordou para as motos muito depois de outras nações. Quando o assunto é guidão, duas rodas e um motor no meio, quem sempre ditou a moda foram os norte-americanos, ingleses, italianos e japoneses.
A maneira mais simples de dar a um modelo uma personalidade diferenciada é usando um pouco de tinta. Recentemente, a Honda brasileira mostrou as habilidades de seus criativos oferecendo aos clientes uma versão em série limitada da Honda CB 300 R (acima) pintada nas cores do principal patrocinador da marca japonesa na MotoGP, a petroleira espanhola Repsol.
No ano passado, embalada pelos prováveis bons ventos da Copa do Mundo no Brasil, pintaram 1.800 unidades da CG 150 Titan EX com as cores de nossa bandeira.
Esse mesmo recurso cromático foi usado pela empresa quase três décadas atrás quando lançou a CB 450E pintada ao estilo dos Williams FW 11 que Nelson Piquet pilotou em 1986 e 1987, e com o qual venceria seu terceiro e último título na F1. A assinatura do tricampeão nas tampas laterais daquela CB 450E acompanhada da gota vermelha estilizada, característica de seu capacete, a harmoniosa combinação do amarelo vivo e azul marinho ou tudo isso junto fizeram desta Honda um dos modelos mais cobiçados da época. Ainda hoje, um dos 240 exemplares fabricados pode valer cifra bem superior à da pedida por modelos equivalentes sem tal caracterização.
Também a Yamaha do Brasil recorreu a conquistas esportivas para inspirar cobiça em seus clientes: as versões limitadas “Racing Blue” das pequenas Crypton115, YBR 125 e Fazer 250, lançadas no final de 2012, remetiam descaradamente aos sucessos de Jorge Lorenzo e Valentino Rossi nas pistas da MotoGP.
Basta um pouco de criatividade e as tintas certas para dar “molho” a modelos, tornando os mais apetitosos do que outros. Porém, o filão das séries especiais vai bem além de um catálogo de cores variado.
Um bom exemplo vem da italiana Ducati, que no final dos anos 1990 produziu algumas poucas unidades de seu modelo 916 usando o nome do campeão da F1 muito amigo da família Castiglioni, dona da marca. A Ducati Senna foi fabricada em poucas unidades entre 1995 e 1998 e dotada de especificação coerente com o “Senna” estampado nas laterais da carenagem, ou seja, suspensões, motor e freios de alto nível.
No ano passado, em homenagem ao legado esportivo do piloto cujo desaparecimento precoce completou duas décadas, a Ducati fabricou 161 exemplares (Grande Prêmios disputados pelo piloto) da 1199 Panigale “Senna “, devidamente numeradas em plaquinha situada em local visível.
Outro exemplo de série especial que não se limita a aspectos estéticos vem da Harley-Davidson. Com faro apuradíssimo para os desejos de seus clientes, que em sua maioria esmagadora tem como hobby a personalização de suas motos, a marca de Milwakee instituiu em 1999 a “grife” CVO, iniciais de Custom Vehicle Operations, o que na prática designa as versões “mais mais” entre as Harley-Davidson. “Mais mais” o quê? Mais caras, potentes e, por consequência, mais exclusivas.
As tintas especiais e acabamentos estéticos requintados das CVO aliam o que há de melhor em termos de preparação de motor. É nas motos dotadas desta sigla que se encontram os motores mais furiosos da H-D assim como o que há de mais elaborado em termos de sistema de áudio. Navegação é equipamento padrão da série. No ano passado a empresa trouxe ao Brasil 30 unidades de sua Softail Breakout CVO, que se esgotaram rapidamente apesar do preço salgado.
Especiais na alma, nas cores, no preço ou em tudo isso, séries exclusivas constituem uma aposta certa da indústria para não apenas atrair gente interessada em modelos mais caprichados ou diferenciados como também – acreditem – aqueles que querem aliar sua paixão por motos a um bom investimento: quem tem uma Ducati Senna 1995 ou mesmo, como mencionado, uma mais abordável Honda CB 450 Nelson Piquet 1986 tem nas mãos um objeto muito desejado e raro, pelo qual as pessoas se dispõe a pagar preços que as versões normais jamais alcançariam.